domingo, 4 de dezembro de 2016

METAMORFOSE




METAMORFOSE


O primeiro contato de Erick Luciano com as drogas foi aos oito anos de idade. Um frasco de lança de perfume. Hoje com 39, Erick é formado em Letras e faz trabalhos de evangelização com dependentes químicos.
Conheci o Erick aos 14 anos de idade, quando cursava a 5º série. Frequentei a sua casa e realizamos vários trabalhos escolares. O garoto sempre gostou de Letras e já com seis anos escrevia poemas. Ele ganhou muitos festivais de literatura na escola. Eu sempre soube do seu contato com as drogas, mas nunca me ofereceu e sempre me respeitou. Terminamos o ginásio e logo depois cada um seguiu o seu destino.
Curioso para saber o que aconteceu nesses 20 anos de ausência. Comecei então a procurá-lo pelas redes sociais e logo vi um “post” no Facebook, que me chamou a atenção.  Entrei no perfil dele e lá dizia. “Muita calma porque o Diploma está na mão para honra e Glória do Senhor Jesus Cristo! ”.
Para a minha alegria, ele estava bem. Foi uma surpresa, pois eu só tinha ouvido falar que ele tinha se afundado mais ainda no mundo das drogas e que ninguém mais sabia o seu paradeiro.
Depois de conversar com ele, percebi que os acontecimentos dos últimos 20 anos mereciam essa entrevista. Então disse a ele que precisava fazer uma matéria sobre pessoas que foram ao fundo do poço e deu a volta por cima. A sua história poderia ajudar outras. 
Depois de vários desencontros, enfim marcamos de nos encontrarmos. Ele veio de moto no local marcado Ele usava uma calça jeans azul escuro uma camisa verde com tênis verde com detalhes azuis. Achei engraçado, e por coincidência eu estava de camisa verde e calça jeans e tênis azul com detalhes em verdes.
Comecei a segui-lo até a sua casa, olhando ele na moto até tinha me esquecido que ele tinha uma perna mecânica, acho que na verdade eu nunca tinha notado, pois era tão natural que realmente não me lembrava.
Enfim chegamos a sua casa. O local, um lote grande e que na verdade um escritório político ele mora em um quarto que parecia ser nos fundos, pois logo na minha frente tinha um outro portão.
Convidou-me para entrar. Vi a minha esquerda um computador e atrás, uma prateleira abarrotada de livros. O quarto é dividido em dois ambientes, no outro ficava a cama de casal e no meio uma TV que estava ligada. Sem cerimônias já fui desligando e colocando a minha máquina para filmar, pois queria gravar tudo que ele me dissesse.
“Não repara não ok. Eu moro aqui e na frente é um escritório político, o meu amigo trabalha para o Professor Alcides, o dono da Faculdade Alfredo Nascer. Ele me deixou morar aqui até resolver as minhas coisas. Aqui eu tenho os meus livros, gosto de ler, sou professor no estado e sou formado em Letras. Aqui está o meu computador onde eu faço as minhas coisas, gravo as minhas músicas e aproveito para fazer as copias de CDs para os meus amigos. É bem mais barato para mim”.
Logo no início do depoimento foi possível perceber que as dificuldades fizeram parte da história de família. “Eu nasci em Anápolis Goiás, esse interior bonito aqui próximo de Goiânia. Sou filho de pais solteiros, da Lúcia Braz Fernandes e Ernane Rodrigues Araújo, que são minha mãezinha e meu pai biológico que se conheceram na adolescência. Enfim, eles tiveram um relacionamento quando jovens e eu fui fruto desse relacionamento. Ambas as famílias não concordavam com a gravidez da minha mãe, pois na época havia muito preconceito com a mãe solteira, eu tive certa dificuldade de nascer, pois a minha mãe disse que quando grávida ela levou até chutes na barriga e por causa da não aceitação da família ela foi morar nas ruas. Mas o meu avô paterno levou ela para morar com ele e cuidou dela mesmo ela não tendo um bom relacionamento com o meu pai biológico. ”

Ainda recém-nascido, ele sofre um acidente na escada. “O meu tio foi me entregar para minha mãe, chegado lá em cima ao me entregar ele entregou só os panos, eu havia descido por uma escada de seis metros mais ou menos. Graças a Deus eu não tive nenhuma lesão.
Dona Lúcia se juntou com irmãos e conseguiu comprar um terreno no parque São Jorge, depois de morar por um tempo Vila Redenção. “Quando a minha mãe morou na Vila Redenção, ela conheceu o meu pai de registro, o José Machado de Miranda, A gente morava juntos, mas o pai tinha negócios na Bahia, ele sempre ia para lá, eu acabei morando com a minha avó, numa casinha pequena de três cômodos, eram 11 pessoas que moravam ali. Só que todo mundo vivia feliz e não sabia, a gente vivia aquele tipo de realidade da época onde todo mundo no fim anos 70 começos dos anos 80 viveu, lá tinha o jirau para lavar as vasilhas, a privada de madeira no fundo do quintal, eu vivi essa realidade, as vezes eu tomava banho no córrego. Isso mesmo, os córregos de Goiânia ainda eram limpos. ”


Aquele menino de oito anos de idade que já tinha caído dos braços do tio e rolou escada abaixo quando ainda era um recém-nascido, estava dentro do barracão quando o telhado veio a baixo e uma vigota quase acertou a sua cabeça. “O telhado quase me matou, foi por muito pouco que aquela vigota não rachou a minha cabeça. Logo depois desse acidente que eu fui com meu pai numa festa de carnaval e eu encontrei meu primo, eu nem sabia se ele era mesmo o meu primo. Eu lembro de alguém falar para mim que era, então a gente entrou no banheiro e ele estava distribuindo lencinho, ele estava com um vidro e eu pedi ele para molhar a minha camisa, ele molhou e eu cheirei e aquela noite eu acabei bebendo fumando e fazendo uma série de coisas que eu nem me lembro direito. Mas uma coisa eu sempre lembrava, dormia e acordava lembrando do meu pai me levando embora, e eu pensava no meu primo que tinha ficado na festa com o frasco, eu queria mais um pouquinho. Essa ansiedade ficou para a vida toda, foi aí que eu experimentei a maconha, cocaína, bebi bebida pesada, o whisky, vodka, cachaça, conhaque e enfim terminei no crack”.
Aos 12 anos Erick voltava com uns amigos de bicicleta para casa em Aparecida de Goiânia. Ele estava à frente de todos no momento da travessia na BR 153, e em alta velocidade um carro o atropelou e o arrastou com bicicleta debaixo do veículo por cerca de 200 metros.  “Eu fui atropelado por um carro que estava a 180 km por hora. Os caras parecem que estavam fazendo racha e alcoolizados, eles vinham de Caldas Novas. Bateram na minha bicicleta e eu fiquei de baixo do carro sendo arrastado, eles pararam e jogaram uma latinha de cerveja fora, retirou a minha bicicleta de baixo do carro, depois me pegou e me abandou na ilha central. Eu fraturei a cabeça, quebrei o nariz, o queixo, quebrei a clavícula e quebrei um dedo da mão, tive escoriações por todo o corpo e a pior delas foi que logo depois eu tive de amputar a minha perna, pois não aguentava mais de dor”.
Ao ser abandonado na ilha, Erick começou a se debater tentando sair daquele local, mas os movimentos bruscos infeccionaram a sua perna.  “O médico lavava e tentava reestruturar as veias e todo o sistema de circulação, mas não conseguiu, chegou a necrosar e eu tive que escolher em amputar o esperar no que iria dar, mas eu não estava aguentado de dor e minha família não queria autorizar a amputação e eu cheguei na minha mãe e disse, ‘pelo amor de Deus, tira essa perna eu não aguento mais uma noite de dor, está doendo muito’. ”
Depois de ficar transpassado de dor e sofrer durante 17 dias, ele teve a perna amputada. Após a cirurgia veio a adaptação, Erick treinava futebol no Goiás Esporte Clube, equipe técnica e médica do clube deu total apoio e o encaminhou para o Hospital Sarah Kubitschek em Brasília para a colocação da prótese. “Tem dia que eu até esqueço que estou usando uma perna mecânica, eu era apaixonado por Futebol e a Dança. Eu tinha três paixões na minha vida; a poesia, o futebol e a dança. Dançar eu ainda posso, mas o futebol não dá mais, eu joguei não profissionalmente. Eu treinava no Goiás quando fui acidentado, mas eu tive que abandonar, eu senti muito na época. Chegando no Sarah e vendo as coisas de perto, a gente percebe que tem problemas maiores do que os nossos, e só grandes guerreiros para suportar grandes lutas. ”
Erick teve que refazer sua vida, aos 12 anos e com uma perna mecânica começou a deixar de lado o sonho de jogar uma partida de futebol, e o dançar com os amigos no fim de tarde no Rock In Rua, aos poucos isso foi ficando para trás. Mas o que não saia da cabeça daquele menino era a visão que tinha do seu primo colocando um líquido num lenço e lhe entregando para cheirar, isso fez com que ele entrasse cada vez mais no mundo das drogas. “Um dia eu parei o carro na porta de casa e levei tudo que tinha, quase tudo que tinha na casa da minha mãe. Os pertences que ela tinha eu ia lá de madrugada quando ela estava dormindo e pegava. Eu peguei todos os meus pertences e passei para o dono da biqueira. O cara que vendia para mim, escutava meu som, era dono dos meus CDs, vestia as minhas roupas, estava sempre com os meus bonés na cabeça, eu ia lá meus tênis importados estavam no pé dele. Para usar a droga você é capaz de vender tudo o que você tem. Um certo dia eu tinha um dinheiro para receber e eu já não tinha mais nada dentro de casa e eu não podia mais bater na porta da casa da minha avó porque ela também já não me aceitava mais, meus tios também não me aceitavam mais na casa deles por que sabiam do que eu era capaz de fazer para conseguir comprar a minha droga. ”

Depois de roubar a sua mãe e não ser mais aceito em no âmbito familiar, Erick aluga um barracão e foi morar só, mas as suas companhias estavam perturbando os outros inquilinos, pois o entra sai era constante e a fumaça do crack chama muita atenção, logo o proprietário pediu o imóvel. Mas antes do aluguel vencer ele abandonou tudo foi morar nas ruas, e lá ele começou a comercializar a droga. Em alguns momentos de lucidez, Erick ia para a casa de sua mãe, ele se sentia muito sujo e quanto mais ele tomava banho, mais banho ele queria tomar.  “Eu peguei um dinheiro e ao invés de pagar as contas eu fui para a rua, eu vendia droga para me manter. Teve uma época que eu estava determinado a parar de vez, ou morrer drogado. Na verdade, eu queria fazer a minha família parar de sofrer, porque eles estavam sofrendo muito. Eu lembro que uma vez eu fui para a casa da minha mãe, e a droga ela te deixa sem moral, sem a alta estima, você se lava e parece que você ainda está sujo, e nesse dia eu sai do banheiro e fui pegar uma cueca, quando eu abri a gaveta tinha um bilhete que dizia assim: Me ajuda a te ajudar. Aquilo me doeu de mais, me doeu na alma. Eu fui morar de aluguel e depois eu larguei essa casa e fui morar na rua. No começo eu tinha um dinheiro e eu conheci umas prostituas num prostíbulo ali na altura do Dergo, as meninas moravam numas casinhas ali perto eu levava a droga lá para a gente usar e algumas me deixavam dormir lá com elas”.
Sempre que tinha drogas, era fácil para ele arrumar um lugar para dormir, mas nem sempre as suas noites terminavam desta forma. “A droga te deixa de um jeito que... você dorme, mas não faz nada, tinha vez que eu dormia até com três, mas não acontecia nada, por que a droga te deixa impotente. A droga te dá uma impotência moral, uma impotência sexual e uma impotência física. Você deixa de tomar banho, você não tem vontade de escovar os dentes, você não tem vontade nem de comer. Então é uma impotência, sexual, física e moral, e também espiritual, você não tem vontade de levantar não vontade de viver, você não tem vontade de abrir a boca e poder orar, você sente num peso e numa sujeira no seu interior o tempo todo.  Quando eu não dormia com as meninas eu tinha um lugar que era de praxe, era um lugar ali perto de uma loja de peças para caminhão, na altura do setor Rodoviário na ponta da PIO XII, na continuação da Castelo Branco, eu dormia ali mesmo, numa calçada surja e escura. Eu tinha uma série de doenças no pulmão isso era de tanto engolir cinza de cigarro e chupar o cachimbo. Então eu já estava com pneumonia, com enfisema pulmonar eu já estava com o pulmão infeccionado, tanto que eu tossia, ora saia uma secreção amarela outra hora saia até sangue, por isso parecia a bandeira do Flamengo o local que eu dormia. Nesta calçada onde eu dormia um dia me deu um calafrio a noite, eu ali tossindo e tal eu comecei a falar com Deus. Eu já tinha sido internado em várias casas de recuperação, espirita, evangélicas, fiquei em clínicas, ou seja, eu já tinha sofrido nove internações e nada tinha adiantado na minha vida, eu já tinha cumprido uma graduação no projeto, que era uma fazendo lá perto de Damolândia. Assim eu já conhecia muito de recuperação e dentro do projeto da recuperação você encontra a força superior que é Deus a única que pode nos ajudar e foi a única que adiantou para mim. E aquela noite eu conversei com Deus ali deitado naquela calçada, teve umas horas que eu me senti ocioso e levantei, sei que eu sentei ali e comecei a falar com ele, eu senti um calafrio o vento soprou e trouxe um papelzinho com o livro de Isaias, capitulo 41, verso 10, esse versículo num pedaço de papel, era até um pedaço de papel de bíblia, não era um papelzinho evangelístico. Era um pedaço de bíblia rasgada escrito NÃO TEMAS EU SOU CONTIGO NÃO TE ASSOMBRES, EU SOU TEU DEUS EU TE AJUDO E TE SUSTENTO COM A DESTRA DA MINHA JUSTIÇA. Então depois de meses eu consegui dar um cochilo com um cara me chutando. Eu sabia que aquele dia iria acontecer algo novo comigo, por que o senhor tinha me visitado na aquela noite.
Um homem chutou o Erick, era o homem que deixava a droga com ele e depois passava só para pegar o dinheiro, nesta hora ele parou de falar deu um suspiro, por alguns instantes eu achei que a nossa conversa iria para por ali, eu também estava com um nó na garganta e doido para saber o que de fato iria acontecer. Passados alguns segundos ele tomou um folego e começou me dizendo. “Acordei com um cara me chutando e olhei para ver quem estava fazendo aquilo, pois a tempo eu não dormia, o crack faz isso, você perde o sono, você não tem vontade de se alimentar, aliás você não tem animo para mais nada. Então aquele momento de sono era precioso para mim, mas quando firmei as vistas e olhei para cima para ver quem era, ele olhou para me disse, está aí a noite eu passo para pegar o que você vendeu. Era o cara, ele é o que traz a droga para mim vender para os dias, eu terminava de vender e quase todas as noites eu terminava com uns 100 ou 200 reais e mais uma quantidade no bolso para eu poder usar. Esse era o dinheiro que eu passava a madrugada, que eu ia lá dormir no prostibulo e que eu conseguia pagar um refrigerante para as meninas, era o que eu conseguia dividir a droga com um colega e ele poder me dar um pedacinho do colchão ali para eu dormi e a gente poder usar a droga junto pela madrugada. Então esse cara trazia para mim de manhã e ao meio dia, depois ele passava a noite para pegar o dinheiro e ele me perguntava se eu queria para vender na madruga, eu não pegava, pois eu não gostava de trabalhar a noite. Na madrugada eu gostava de andar atoa, pois era muito perigoso, a polícia repreendia muito. Eu terminava as madrugadas ali num mocosinho fumando entendeu. Nesse dia ele deixou ali 25 ou 30 gramas de drogas e aí eu vendi para um menor e o ele entrou na esquina a Rotam estava passando e pegou ele, eles só deram o balão no quarteirão e me pegou na outra esquina, por que já tinha nos vistos juntos. Era besteira eu correr ali, por que se eu corresse eles iriam me pegar.
A Rotam (Rondas Ostensivas Táticas Metropolitanas), fazia a ronda do local quando abordou este menor com a cocaína, que os levou até o seu vendedor. Pegaram Erick Luciano e o colocaram na viatura e deram voltas com pelo setor. “Eles me pegaram e me jogaram dentro da gaiola, dentro do camburão e rodaram comigo o dia todo, o dia todinho, essa hora era umas 15 para sete da manhã e eles ficaram comigo até umas seis horas e 15 minutos. Eles me levaram ali para capim puba na altura da avenida Castelo Branco, que é de frente para a Metamorfose, onde eu já fiquei por cinco vezes internado. Eu não tinha nenhuma esperança, eu não tinha sonho. Então eu já estava assim; “eu vou morrer drogado ou vai acontecer uma coisa muito grande comigo”, mas eu não tinha lá muita esperança não. Então eu comecei a apanhar, dos policiais. Quando eu vi eu estava enxergando só o vulto e silhueta né”.
Nesta hora é possível ver nitidamente a expressão do Erick mudar, olho para ele e vejo o braço balançar em cima da perna, como se alguma coisa fosse acontecer. O braço dele começa a tremer e a cada hora que passa parece aumentar de velocidade, é quando ele me conta da arma. “Eles diziam um para o outro. “Pega aquela arma lá”. Então o soldado pegava a arma e mandava na minha cabeça, eu fechei meus olhos, e ele apertou o gatilho, e eu abri e vi que ainda estava ali. Então eles gritavam. "Que porra é essa, pega aquela outra lá dentro do carro e vamos acabar logo com isso”. Ele batia com arma na minha cabeça e apertava o gatilho e a arma falhava, eu olhava aquilo e eles me batiam e apertava o gatilho e nada por que a arma falhava, e aquela já era a segunda arma. Eu só via uns gritos de “pega a outra lá, pega lá”. Ai nesse momento um cara veio, eu só lembro de o cara bater no meu ombro e conversar comigo, eu não lembro do rosto dele eu não lembro do jeito que ele estava, não lembro se ele era o motorista ou se era o comandante. Eu me lembro que ele tinha uma voz muito boa e falou assim para mim. “Tem uma coisa muito boa dentro de você e você tem que aproveitar isso, vai e eu vou te dar cobertura, vai, some daqui”. Eu corri, eu corri muito.
Erick saiu correndo atravessou córrego e mato alto e chegou desmaiando na porta da Metamorfose e foi socorrido pelos pastores Ricardo e Sônia. “Eu ainda tinha 30 gramas de crack no meu bolso, eles não chegaram a me dar um baculejo para tomar a droga que eu estava com ela. Eu atravessei o córrego correndo e não sei como que eu cheguei do outro lado, com a minha calça e o tênis seco e a droga também. Eu usei a droga ali mesmo na calçada e desmaie. Fui resgatado pelos pastores que me levaram para dentro, e eu dormir três dias. Três meses depois de estar no projeto metamorfose, eu me tornei coordenador de triagem, comecei a ter uma intimidade maior com Deus. Aos nove meses eu já estava com um CD gravado, foram surgindo pessoas para me ajudar e que me levaram no estúdio para gravar as músicas. Hoje eu sou formado em Letras, sou professor no estado e trabalho com a obra de Deus. Estou estudando para um concurso para ver se eu passo, o concurso para a prefeitura de Goiânia.
Erick está investindo na música, e na poesia pois ele é poeta desde os sete anos de idade. As poesias e os artigos são postados no site (http://www.erickpitt.com.br/), “Também posto no meu site os artigos onde eu falo da chegada do hip hop no Brasil e da literatura marginal. Eu trabalho com isso, trabalho com arte, com educação e teologia e faço missões para ajudar pessoas que nem eu, ou pessoas que precisam de uma palavra de amor, de carinho um pouco de atenção e se quiser um abraço uma palavra de carinho eu estou aí para ajudar. Porque eu acho que eu vim na terra para isso, por que se não eu já tinha ido, lá atrás quando meu tino me deixou cair na escada. Então, o meu projeto tem continuidade”.
Estávamos terminando o nosso bate papo, pude observar que o Luciano já estava mais tranquilo, mais aliviado. Não deve ser fácil expor o seu passado assim, não foi mesmo, não foi nem para mim que só fiquei ouvindo, imagina para ele ter que relembrar tudo o que aconteceu a oito anos atrás. “Deus tem um plano nas nossas vidas, eu me batizei no dia 31 de outubro de 2008. Um mês antes do meu batismo, em setembro eu dei entrada na Metamorfose. No dia que eu me batizei eu ainda estava muito doente, eu estava ficando cego desse olho”. Nesse momento ele aponta para o olho direito. “Eu estava com muitos problemas pulmonares, eu não conseguia dormir direito, devido a abstinência das drogas, as tosses eram intensas, eu comecei a ir no hospital, mas envolvi tanto com a obra que parei de ir, e não sei quando e nem como eu fui curado, eu estava trabalhando num projeto de Deus, e é como Deus fala, “trabalha para mim que eu cuido de você e de sua família”.  Em risos ele diz. “Então eu colho essa promessa de Deus, porque hoje eu estou casado, tenho um filho de 21 anos. O meu coração pertence a Deus, eu tive que resolver com ele, para depois resolver com o resto do mundo.
Bruno Alberto é o único filho de Erick Luciano que mora em Brasília e convivência dos dois é de bastante confiança. “A minha relação é sempre aberta, hoje a gente se comunica muito através do WhatsApp, e quando ele precisa de alguma coisa, um conselho ou até mesmo o ombro do pai, eu estou aqui para atender. Às vezes sou eu que preciso de um conselho, ele é bem mais ameno do que eu, ele é mais calado, bem quieto é bem na dele, por que ele também é missionário. Na hora do sacrifício ele me socorre, ele já é bem adulto e teve um estilo de vida bem diferenciado do meu. Eu acredito que a vida dele teve mais para oferecer, foi mais rica no conteúdo, não apagou uma parte dela como eu apaguei com as drogas. ”
Perguntei para Erick se ele já tinha tirado alguém das ruas assim como ele foi tirado. “Sim eu já tirei e hoje eu faço um trabalho de evangelização na metamorfose, todas as quintas-feiras. Eu estou ali pregando a palavra de Deus para eles. Em Brasília eu também executei um projeto legal lá, o pessoal que ia oferecer sopa nas ruas e ali a gente dava uma palavra, já fui nas biqueiras ali no Samambaia pregar a palavra de Deus e chamar os irmãos ao arrependimento. Tem o Marcelo que é um filho na fé, ele poderia muito bem-estar no mundo das drogas, mas eu fui o produtor executivo do trabalho dele, ele gravou um disco e está com a turma dele fazendo um Rap pra Cristo na linha evangelista. E tem a turma da minha época que a gente sempre se junta para fazer a evangelização, principalmente no meu setor, no setor onde eu morava, ali na Rosas dos Ventos em Aparecida de Goiânia.
“Olha, há caminhos para o homem, que parecem certos, ele pensa que está vivendo no caminho certo agradável e prazeroso. Mas pode ser esse o caminho de morte. Aproveite o seu tempo, porque quanto mais você aproveita, mais virtude você pode ganhar. Essa a mensagem que eu quero deixar, a música que eu gosto mais e que lembra a minha história se chama. Certa vez um mendigo orava na calçada. E ela é mais ou menos assim.

Muitas vezes digo e vou repetir, quantas vezes falo disparo e continua aeh, o medo te consome o mundo te engole a depressão do irmão o faz levar a mais uma pitada, tragada da pedra do crack e o gole, NE mole não que tentação do cão, lá se vai mais um dia novamente a noite vem e no dia de ontem foi assim também, é triste aeh jogado, bêbado drogado na ilusão que agonia, derrotado maltrapilho no relento que calçada fria! Na madrugada a fome dói, o estômago rói e o jornal já não te esquenta, e você goro e crack se reduz a nada aeh a vida não aguenta que pena
Certo dia deitado foi visto jogado, no vento soprado um papel velho e rasgado lia e chorava, se comovia com as fortes palavras era um pedaço de bíblia sagrada, a partir desse dia sua vida mudava, no papel velho estava o versículo do livro profético Isaías 41 no verso 10, prantos na calçada arrepiava da cabeça aos pés. ”


Disse ao Erick que estava muito emocionado de ouvir tudo aquilo e perceber que tinha conseguindo sair dessa e que a sua história perto da minha, não merecia nem ser contada, aí ele me interrompeu e disse. “Desculpa, mas eu não vejo assim, para cada ser humano há uma perspectiva de vida, acho que cada um tem que contar a sua história. A nossa história ela é linda, é porque você está olhando a minha, se eu estivesse no seu lugar e você aqui, eu acredito que eu também iria chorar, pois tem uma série de coisas aqui que eu falo e não agradei de ter vivido disso, eu não queria ter vivido isso, infelizmente eu vivi e agora eu preciso contar. Eu preciso contar que há cura para as drogas, eu preciso dizer, que não é que você tem que aprender a cair, mas sim que você precisa levantar quando você cai, você precisa passar isso para as pessoas. O engraçado Luciano, eu olho para a minha história, ela não é nada a comparada a história de Cristo. Olha, quando eu falo para as pessoas que eu estou aqui contando o meu testemunho eu digo que testemunho de verdade é o de Jesus Cristo, que morreu na cruz por mim e por você”.
Sai com a certeza de que tinha aprendido muito e que estava com uma grande história na minha mão, é como diz Fernando Pessoa “Tudo vale a pena, quando a alma não é pequena”  



Luciano Magalhães Diniz

terça-feira, 15 de novembro de 2016

O ESTUDO

A unica coisa que muda o ser humano é os estudos. O dinheiro também muda, só que ele um dia acaba por que a gente não estudou para saber como gastar. E se temos estudos, temos dinheiro. O que adianta não saber onde investir o que investir e como investir. Os homens sábios não ficaram ricos com as suas invenções estudando, mas jamais sairão da memoria da humanidade, não pelo dinheiro, porque não tinham, mas sim pelas coisas que inventaram. (Magalhães, 2016. p. 05)